As empresas brasileiras retomaram o ritmo frenético com que se unem ou compram umas às outras (atividade chamada de fusões e aquisições ou F&A). O ano de 2010 deverá registrar o maior número de operações dessa natureza já realizado no país. Uma empresa de auditoria e consultoria especializada no assunto calcula que, mantida a média do primeiro trimestre, de 60 operações por mês, será quebrado o recorde de 699 acordos em 2007. O que significa um mercado tão aquecido?
O que teria disparado as transações entre empresas brasileiras, as compras de brasileiras por multinacionais estrangeiras e as aquisições de companhias estrangeiras por brasileiras em processo de internacionalização? Será que se trata de uma febre intensa e passageira, pela boa fase do cenário brasileiro em meio à desaceleração econômica global? Ou teremos pela frente uma longa onda de F&A, com fundamentos bem mais sólidos? A verdade é que as compras e vendas de empresas respondem a fundamentos estruturais, mais do que a circunstâncias apenas conjunturais.
Seria ingenuidade descartar as oportunidades disparadas pela crise, as reações defensivas ao excesso de impostos e à feroz concorrência asiática, as tentativas de formação de cartel e outras estratégias empresariais de intenção menos nobre. As ondas de F&A não têm sido apenas uma busca de maior eficiência, mas também a tentativa de chegar ao paraíso de um “monopólio sobre consumidores”, em uma versão degenerada dos princípios de investimento apregoados pelo megainvestidor americano Warren Buffett. Mas sempre que examinamos as operações de F&A estamos falando de estratégias corporativas de longo prazo. O vertiginoso crescimento das transações nos mercados corporativos reflete expectativas favoráveis quanto ao crescimento sustentável do país, ao bônus demográfico das próximas décadas, ao fortalecimento da classe média, à emergência de um mercado interno de consumo de massas e às consolidações – ou seja, o processo pelo qual um setor passa a ter menos companhias, mas mais fortes.
Temos uma economia de dimensões continentais, com quase 200 milhões de potenciais consumidores. É um mercado colossal para ser explorado apenas por uma formidável multinacional da cerveja, outra enorme companhia de alimentos, meia dúzia de bancos e grandes redes de comércio varejista em desesperada corrida para consolidação.
Há setores em que esse processo é uma resposta eficiente aos desafios de um novo ambiente de competição. A exemplo do que ocorreu na primeira grande onda de fusões americanas, de 1897 a 1904, quando 4.277 empresas se consolidaram em 257 corporações, vemos que a maior parte das transações é “horizontal”. Elas ocorrem entre companhias que fazem as mesmas coisas e buscam reduzir custos fixos, ganhar eficiência logística, compartilhar serviços comuns e racionalizar os programas de investimento.
Nos Estados Unidos, as fusões naquela ocasião ocorreram nas indústrias intensivas em capital, como de ferrovia e aço. Curiosamente, no Brasil, uma onda semelhante ocorre no setor educacional. Setor de serviços extremamente fragmentado, em meio a um choque de destruição criadora causado pelas novas tecnologias de telecomunicações e da internet, a educação é alvo de empresas multinacionais e de fundos de investimento estrangeiros. E, ao contrário do que aconteceu com os bancos, setor em que a hiperinflação afastou os estrangeiros enquanto prosseguiam as fusões internas, a consolidação tardia do setor educacional tem mostrado até agora uma vantagem para os estrangeiros.
Em contraste com as economias americana (que se encontra no fim de um ciclo de crescimento de décadas) e europeia (que terá de se ajustar após décadas de excessos nas finanças públicas), a economia brasileira ensaia os primeiros passos do que poderia ser um longo ciclo de crescimento econômico sustentável. Esse é o sinal emitido pela onda de fusões e aquisições que varre o país.
fonte: revista época
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